“Ao ouvir isso, o jovem foi embora triste, porque possuía muitos bens” Mt 19,16-22
A decepção com os grandes projetos sociais, a frustração com a razão produtora de grandes guerras, a queda do bloco soviético e a ascensão da sociedade de consumo forjam uma pós-modernidade marcadamente personalista, onde a pessoa é livre; sujeito de si mesmo que projeta suas motivações do passado e do futuro em vista de um presente frutuoso.
Também as juventudes passaram a buscar tenazmente a afirmação-do-eu (self) , herança mais original da idade moderna, que se traduz, segundo Blumenberg, “num programa existencial segundo o qual a pessoa coloca sua existência numa situação histórica e indica para si mesma como ela vai lidar com a realidade que a circunda e que uso irá fazer das possibilidades abertas diante de si mesma” .
Há hoje muitas maneiras de “ser jovem” . O uso do plural expressa a necessidade de qualificar a juventude, percebendo-a como uma categoria complexa e heterogênea; é preciso superar simplificações e esquemas muito cristalizados. Dentro desse mosaico de possibilidades nos voltamos para um tema, as drogas, que permeia muitas delas, sem caracterizar uma em particular; as drogas. A análise da droga como um tema e não como um retrato juvenil é para superar o estigma da rotulação.
As juventudes desejam uma vida muito boa, em um contexto de múltiplas possibilidades e intensas estratégias diretivas de marketing; elas na medida em que buscam o desejo acabam caindo na dependência e na necessidade de vários produtos. As drogas se colocam nessa dimensão na medida em que interferem no acesso aos reais desejos. Ela oferece à pessoa possibilidades de separar-se das reais condições da existência.
Em uma cultura hedonista e subjetivista, que coloca o sofrimento na perspectiva dos “otários” que não sabem aproveitar a vida, as drogas se apresentam como porta de acesso ao pseudo-desejo de liberdade. Essa cultura faz uma violenta inversão no que tange à subjetividade; para muitos o bem-estar é ser livre da própria subjetividade; a existência incomoda para o niilista. Isso em um mundo do não-limite é abertura para as drogas.
Juventude, enquanto fase, se caracteriza como momento em que a pessoa busca referências para a construção da identidade, falam de si no plural e se encontram mais à vontade com seus grupos de pares que se formam de acordo com recursos simbólicos e materiais que lhe são disponibilizados pela família.
O intenso fenômeno da violência social que assola a sociedade em seus diversos níveis, incidindo particularmente no mundo juvenil exige uma séria reflexão. De fato, uma parcela da sociedade é relegada à invisibilidade social no tocante à efetivação dos direitos de proteção social básica e a políticas públicas aptas a romper com as condições socioeconômicas geradoras e perpetuadoras de iniquidade social.
O expressivo contingente de jovens inseridos num cotidiano de risco pessoal e de vulnerabilidades propicia a disseminação da cultura da violência. As gangues, fenômeno frequente nesse cenário, configuram-se como modo de organização de jovens mediante o qual a violência é replicada: os jovens morrem pelas mãos dos próprios jovens. Contudo, setores das sociedades civil e política surgem para o enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, reconhecendo-os como sujeitos de direitos e em desenvolvimento, e afirmam, mediante os próprios jovens, que “a juventude quer viver”.
A decepção com os grandes projetos sociais, a frustração com a razão produtora de grandes guerras, a queda do bloco soviético e a ascensão da sociedade de consumo forjam uma pós-modernidade marcadamente personalista, onde a pessoa é livre; sujeito de si mesmo que projeta suas motivações do passado e do futuro em vista de um presente frutuoso.
Também as juventudes passaram a buscar tenazmente a afirmação-do-eu (self) , herança mais original da idade moderna, que se traduz, segundo Blumenberg, “num programa existencial segundo o qual a pessoa coloca sua existência numa situação histórica e indica para si mesma como ela vai lidar com a realidade que a circunda e que uso irá fazer das possibilidades abertas diante de si mesma” .
Há hoje muitas maneiras de “ser jovem” . O uso do plural expressa a necessidade de qualificar a juventude, percebendo-a como uma categoria complexa e heterogênea; é preciso superar simplificações e esquemas muito cristalizados. Dentro desse mosaico de possibilidades nos voltamos para um tema, as drogas, que permeia muitas delas, sem caracterizar uma em particular; as drogas. A análise da droga como um tema e não como um retrato juvenil é para superar o estigma da rotulação.
As juventudes desejam uma vida muito boa, em um contexto de múltiplas possibilidades e intensas estratégias diretivas de marketing; elas na medida em que buscam o desejo acabam caindo na dependência e na necessidade de vários produtos. As drogas se colocam nessa dimensão na medida em que interferem no acesso aos reais desejos. Ela oferece à pessoa possibilidades de separar-se das reais condições da existência.
Em uma cultura hedonista e subjetivista, que coloca o sofrimento na perspectiva dos “otários” que não sabem aproveitar a vida, as drogas se apresentam como porta de acesso ao pseudo-desejo de liberdade. Essa cultura faz uma violenta inversão no que tange à subjetividade; para muitos o bem-estar é ser livre da própria subjetividade; a existência incomoda para o niilista. Isso em um mundo do não-limite é abertura para as drogas.
Juventude, enquanto fase, se caracteriza como momento em que a pessoa busca referências para a construção da identidade, falam de si no plural e se encontram mais à vontade com seus grupos de pares que se formam de acordo com recursos simbólicos e materiais que lhe são disponibilizados pela família.
O intenso fenômeno da violência social que assola a sociedade em seus diversos níveis, incidindo particularmente no mundo juvenil exige uma séria reflexão. De fato, uma parcela da sociedade é relegada à invisibilidade social no tocante à efetivação dos direitos de proteção social básica e a políticas públicas aptas a romper com as condições socioeconômicas geradoras e perpetuadoras de iniquidade social.
O expressivo contingente de jovens inseridos num cotidiano de risco pessoal e de vulnerabilidades propicia a disseminação da cultura da violência. As gangues, fenômeno frequente nesse cenário, configuram-se como modo de organização de jovens mediante o qual a violência é replicada: os jovens morrem pelas mãos dos próprios jovens. Contudo, setores das sociedades civil e política surgem para o enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, reconhecendo-os como sujeitos de direitos e em desenvolvimento, e afirmam, mediante os próprios jovens, que “a juventude quer viver”.
Família e juventudes.
Inicialmente é preciso demarcar que o termo família será aqui tratado além da Unidade Biológica de Reprodução (pai, mãe e filhos) que tem seu mérito por oferecer caminho para a construção do discurso normativo; contudo hoje novas formas de organização e funcionamento da família surgem provocadas pela constante mudança de paradigma cultural; mudanças de papéis sociais são constantes. E as normas outrora constituídas cristalizaram-se colocando tudo que vem como novidade no âmbito do desvio, da anormalidade e, até mesmo, da patologia.
Como afirma SARTI , partindo da perspectiva narrativa é possível compreender a família como universo de relações, que acompanham o indivíduo desde o nascimento, com um conjunto de palavras, gestos, atitudes e até mesmo silêncio, e que será por ele assimilado e ressignificado, á sua maneira. Tal compreensão não nega a importância do grupo de parentesco, apenas coloca para a família um sistema maior que esse grupo em si.
A partir das referencias familiares é que o jovem se constitui socialmente, porque é ali que ele adquire linguagem para definir seu caráter; é ali que o jovem começa a ver e a significar o mundo. A família nascerá dos elementos que criam os elos de sentido nas relações; os laços biológicos são um desses elementos.
Na família o jovem adentra colocando a figura do “outro” , com um discurso capaz de abalar o discurso oficial, é o corpo estranho que ele vai buscar fora da família para forma sua identidade. Como toda instituição, a família tende a rechaçar esse “outro” com o qual o jovem se reconhece.
“A disponibilidade e a definição de limites da família para deixar entrar, aceitar e lidar com esse outro do mundo jovem serão determinantes das relações na família nesse momento de sua vida [...] A importância fundamental da família para o jovem está precisamente nessa possibilidade de manter o eixo de referências simbólicas que a família representa e que nesse momento, precisa abrir espaço para o outro, justamente para continuar a ser ponto de referência.”
O problema é que a família para se manter, muitas vezes, fecha-se ao jovem colocando-o na condição de indesejável em seu seio. A negação do diferente esconde a dura realidade de que este se parece quem o distingue. É preciso ousar colocar o ponto de vista em confronto com o ponto de vista alheio, relativizando as verdades absolutas que julga ter; isso requer humildade.
Não saber lidar com essa etapa comum do processo juvenil traz para o contexto familiar o fantasma da drogadição que é satanizado como problema do qual se quer libertar; enquanto jovem a busca é pelo que o diferencia da família e satisfaça seus “desejos” e a sensação de angústia, abandono, perseguição e, em alguns casos, fome; permitindo que, por breves períodos, as opressões sofridas transformem-se em euforia e outros sentimentos capazes de coloca-los novamente na condição de euforia e autossuficiência.
Juventudes e drogas
Pesquisas recentes mostram que 72% dos jovens entre 15 e 24 anos afirmam ter fácil acesso as drogas ilícitas (maconha e cocaína), mas relativamente poucos (13,9%) usam dessa proximidade em benefício próprio; outro fato é que apenas 17% deles são a favor de que o uso da maconha, por exemplo, deixe de ser crime. Isso derruba o mito de que as juventudes são prezas fáceis para as drogas. É possível perceber ainda nas pesquisas que os jovens com baixo desempenho escolar e com relacionamento familiar difícil são os que apresentam maiores chances de consumir substâncias ilícitas.
A construção da identidade juvenil passa pelo campo da transgressão e, nesse momento, as drogas ilícitas se apresentam como mercadorias de forte apelo, por estarem à margem e se apresentam como bônus ao modelo formal de consumo, saindo do padrão social e entrando no padrão dos afins.
Esse contato com um grupo organizado, alternativo e contrário ao familiar oferece para a pessoa a oportunidade de identificar-se com aquilo que se difere do padrão dado desde a infância; é quando aquilo que foi apresentado como mal apresenta-se como caminho possível. Nesse grupo a onipotência imaginária da pessoa ganha possibilidade, fazendo dela ser incastrável, toda poderosa. Jovens usuários de classe média e alta evidenciam isso com mais facilidade; mas todas as camadas sociais estão envoltas nesse drama.
A busca de completude será sempre pauta da existência humana; as pessoas são seres sociais e buscam a alteridade constantemente; a descoberta da ausência desse “outro” frustra, por revelar a dificuldade de enfrentar a vida por si e solitáriamente. Não há quem resolva seus problemas. O efeito da droga faz a pessoa voltar a sensação de continuidade com aquele grande outro que o sustenta e dá segurança; isso não é um imperativo na medida em que há sujeitos que ficam mais inseguros ainda. Há quem use para procurar amparo, outros para se comemorar ou coroar a completude.
Concluindo
A sociedade ocidental pós-moderna propõe (impondo) uma vida autônoma pautada em projetos individualizados, e o consumo como imperativo e merecimento imediato de tudo por todos, o que não é verdade, isso frustra. A família apresenta facetas de carinho, atenção e proteção em um mundo integrado que acolhe o jovem como ele é, quando o jovem apresenta novos elementos para sua identidade a família rechaça, e, mais uma vez, isso frustra e leva à droga, um caminho economicamente acessível a muitos para apaziguar as angústias. Isso coloca muitos jovens na cultura, pregada como possibilidade de uma boa vida só de prazeres, eliminando os modos de sofrer a partir do momento que dá sentido ao sofrimento; o ruim é quando esse sentido vem com a falta de drogas, é quando a dependência domina a pessoa.
As juventudes hoje encontram um mundo de possibilidades para realizar as mais diversas vontades; contudo urge uma educação crítica da manipulação da independência juvenil, educação essa que também seja capaz de superar um moralismo exacerbado, sem desconsiderar os riscos reais de todas as drogas, até, e principalmente, das lícitas.
Vivemos em um contexto de muitas riquezas para as juventudes, e elas devem sim beneficiar-se disso; contudo há um ditado popular que diz que quem tudo quer acaba por nada ter. A compreensão da finitude como limite real na existência não pode ser desconsiderado.
É nesse momento que a religião se apresenta como esperança e alegria; uma vida bem vivida aqui continua na eternidade junto àquele que ama e se entrega para que as juventudes vivam, e tenham vida em abundância. Essa vida não é significado de ausência de sofrimento, mas de enfrentamento das dificuldades como desafios que aprimoram, ajudam a romper com antigas estruturas e contribuem para a formação de uma personalidade forte, robusta e autentica. Isso é adultecer; é aprender com a vida; é abandonar os bens efêmeros em vista do fundamental; é ter a coragem que o jovem da passagem do evangelho citada no começo não apresentou quando Jesus lhe faz a proposta de seguimento.
O Reino só acontece quando a fé é acolhida na interioridade de cada pessoa; é a adesão pessoal que tem sua fonte e finalidade na comunidade. O cenário pós-moderno valoriza isso; é preciso pensar a evangelização das juventudes na pós-modernidade, respeitando a aderindo ao tempo, transformando os problemas em oportunidades. Não se pode negar mais a subjetivação do ser humano, que não teme uma vida instável e relativa. É fato que os grandes projetos estão se perdendo; obviamente isso traz seus prejuízos, mas também apresenta centelhas de esperança já que vai exigir convicção dos que aderem à proposta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABRAMO, Helena Wendel; BRANCO, Pedro Paulo Martoni. (org). Retratos da juventude brasileira. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo e Instituto de Cidadânia, 2005.
2. ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de; EUGENIO, Fernanda. Culturas Jovens: novos mapas do afeto. São Paulo: Jorge Zahar, 2006.
3. BLUMENBERG, Hans. The legitimacy of the Modern Age. Cambrige: MIT, 1983.
4. CARMO, Paulo Sérgio. Juventude no singular e no plural. In: As Caras da Juventude. Cadernos Adenauer. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2001.
5. DIAS, Maria das G. F. de F.; FONTAINE, Anne M. O desenvolvimento do Self. In:______. Tarefas desenvolvimentais e bem-estar de jovens universitários. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian; Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2001. p. 253-304
6. SARTRI, Cyntia Andersen. O jovem na família: o outro necessário. In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (org). Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo e Instituto de Cidadânia, 2006
7. SOUZA, José Carlos Aguiar de. O Projeto da Modernidade: autonomia, secularização e novas perspectivas. Brasília: Liver livro, 2005.